segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Misoginia

Minissaia;
submissa
a mulher se ajoelha
diante o século
e reza a missa
dos homens.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Ao Decálogo IV

É feito quem sonha por uma luneta
e nela encontra um sonho mais próximo:
uma realidade dentro de espelhos.

Sonhar, e se entregar a fazer poesias
pois nada mais é a poesia se não lunetas
para te olhar.

Poesia são meninos curiosos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Moça da Livraria

Metáforas no espaço que ocupam teus lábios.
Talvez por respirar pela boca o ar da livraria
Um sorriso de livros e olhos de catálogo

Sem moedas para o troco,
aceito em troca qualquer palavra
que dita por outra boca se torna nova
e pela tua, outra: metáfora.

Aceito que me diga pássaro
por 25 centavos.

Divina Comédia

A meio caminhar de "Minha Vida"
Fui me encontrar no íntimo pêlo
Estava minha via reta perdida

Ah! que a tarefa de falar me é Dura
E dessa selva escura com a língua
desbravar o sêlo

E te fazer rir.
E entre gemido e lábios entreabertos
você me diz
Seria o clitóris a entrada para o inferno?
"Deixai toda esperança,Oh vós que entrais!"
Para depois teu espírito morrer nos lençóis..

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O amor esse quebra-cabeça que o montamos ao avesso de nossas carnes, pois ela me sabe a vontade de continuar

domingo, 24 de outubro de 2010

C.

Já se foram os tempos
da lasanha
da máquina de lavar
sofá; cama pia vinho

No passado eu descobri
que as pétalas de rosa
devem ser colidas recentemente

Agora,
fóssil de rosa em algum canto da casa
junto às cartas que não mandei
por virarem poesia.

E guardado na última gaveta,
junto ao seu pijama, está a esperança,
mas tudo bem eu não abro mais essa gaveta.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Two beers?

A luz da mente que ultrapassa esse cérebro placentário
Que pare tantas aberrações monstros horrenda Atena

(Essa luz que vibra:
Penso, logo sofro
Sofro, logo existo)

Essa criança que nasce morta de meu Crânio
e se seca no sol da rua, pois é na rua que se pare
pensamentos.

É quando se rouba a luz dos postes
e eles se apagam quando você passa
matando uma fada por poste apagado.

Essa terrível luz agora ilumina a podridão do cérebro
espantando os morcegos que se mantinham no escuro .
Essa luz que entra pelos ouvidos, passa pelo cérebro
e sai pelos olhos, mas nunca por completa

Parte do corpo da luz fica preso nas teias da memória
Luz chamada Saudade mas também responde pelo nome
de lembrança. Saudade é lembrar
“Recordar é viver”
ou se matar
um pouco cada dia.

Lembrar não vai aumentar seu tempo
e nunca se terá tempo de beber a próxima cerveja.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

À

Jesus nascido nas costas
Feito um caledoscópio
ou um milhão de escafandristas
mergulhando em seus olhos.

Mulher de escamas
de camadas – de palavras
Mulher palimpséstica

T
- e nt
----- e
Dormir.

sábado, 18 de setembro de 2010

Pedaço de Mim

Uma seleção de músicas românticas
descendo pelo ralo inutilmente
tantas músicas para o lixo.

O miojo perdido e agora esquecido
dentro da gaveta
QUE NINGUÉM MAIS COME.

É tão difícil pensar no futuro
com seu pijama sobre a cama

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

III

Safo beijando Anactória em frente ao Grande Hotel.

Flautas de chorinho tocando numa sexta-feira flores
Na cesta de Safo que flutuava sobre a multidão
e lá embaixo Anactória bebe sua lata de cerveja
ou Ambrosia.

Circo ao ar livre e como sempre
Ônibus passando; casa de deuses
Sem jardim e muros com cerca elétrica.

Televisões fazendo milagres em 3D
HD

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

II

Setembro

época tão seca
que negros de bocas brancas e secas;
um batalhão de infantes etíopes,
tocam dub em nossos poros.

Época que o mundo gira num descompasso
do reggae
e os ônibus caminham mais devagar
pela cidade

As Cinzas de Troia e Pompeia
chovem sobre Goiânia

E todos deuses e deusas
ocumpam seu espaço apertado
no ônibus.

Ontem Palas Atena segurou meu material
e roubou minha borracha.
e Afrodite com um belo sorriso
me deu feliz aniversário

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

I

Arrebentam as vértebras da coluna do ônibus
Sonâmbulos carros e motos
A cidade invadida verde onde o prédio começa
No nono andar

A preguiça estendida na avenida
Feito esguia água que escorre pelo banco
ou seriam pernas da moça do ônibus,
era Safo sentada ao meu lado
e estalavam suas línguas na minha orelha.

Aurora fumando seu cigarro matinal
e dela nosso herói pede emprestado seu isqueiro
fumando um palheiro na porta do escritório

Mais distante, num posto, Afrodite surge de um mictório
sem ostras, mas naftalinas compondo seu leito
surgida dos testículos esquecidos no banheiro
por um bêbado ou algum caminhoneiro.

Mais tarde – continuando nossa história –
Vi aos beijos bem no centro da cidade
Duas mulheres de jovem idade
Era Safo beijando flores em Anactória

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lembra

Lembra quando nos amamos acima de todas as leis:
Flutuávamos sobre a cama e nossas coxas no ar giravam
enquanto nos enleávamos nas sedas
Quando nosso lençol voou pela janela
e o travesseiro virou um pássaro e foi buscá-lo.

Lembra, que num relâmpago nosso, tudo se fez olvido
calmo o lençol caiu sobre nós.

Lembro que acordamos com o interfone tocando.
O porteiro com voz de tédio perguntando se tínhamos, outra vez,
deixado o travesseiro cair no portão de entrada do prédio
E você, tirando uma pena branca da boca, me disse em versos:

“Nos amamos como se amam nos sonhos
Que nos sonhos estão contidos”

À deriva

Espumas e fumaça no ar, No mar
um barco sem destino. Rindo
como um louco o navegador mar
adentra.

Bêbado,
Não se sabe se é o barco,
se é o mar ou o homem
Nesse balanço vertiginoso.

Não se sabe se a espuma é
o gozo celeste de Urano
ou fermento da cevada.

A fumaça a queimar os pulmões
da noite que se refresca
ao mar

Talvez seja Rimbaud
perambulando perdido
na eternidade,nesse mar
de ressaca

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Se se morre de amor

Se Joaquim, mal-amado,
se matou num domingo
Depois de o amor
Tudo lhe comer

O meu amor só
me comeu os créditos
do celular

e eu já penso em me matar,

Isso talvez não seja amor
mas desse amor se morre

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Futuro de 11:45

Adiantei o relógio
da cozinha
para fazer poesia.

Ao meio-dia
anunciou-se a poesia
pelo cantar dos pássaros
que habitam a panela de pressão

domingo, 1 de agosto de 2010

Sílabas de tato

Meus dedos tocam seu corpo
Em dáctilos
Sentindo cada sílaba de tato
Assim: uma longa e duas breves
Por onde cantam meus dedos

Prolongar uma sílaba de noite
no paladar de teu hálito
quando a língua é tato e fala
uma sílaba longa
ou um gemido
Quando o coração prolonga
a sílaba de amor e dilata-se
Em uma diástole eterna.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

São os mínimos pêlos, claros, da barriga que em calor se arrepiam
Dessas rochas de recôndita vida, são por essas belas ancas,
Que minha alma feito carne sobre seu corpo ainda vibra
Por todas as manhãs que hão de vir ainda,
ou as noites que já foram um dia.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Assim cantava a morte

Assim cantava a morte:
Nada é o que me sobra
O que me sopra: coisa nenhuma.

De tudo que tive só vermes é o que me resta.
E o que me fica de testamento, como testemunha:
As latas no chão, a sujeira do dia após a festa

E pela fresta da vida, da janela cobro-lhes os juros
Pelos furos que deixei na estrada de minhas vindas

Suas vidas nas minhas entranhas
são coisas nenhuma em ruínas

terça-feira, 29 de junho de 2010

Veículos em transição

Observar a disposição
dos corpos em lugares:
cadeiras, espaços, em branco,
em bancos em letras e sons

E o seu trono fixado ao centro.
(Arbitrária origem)
De uma linha reta, arbitrariamente,
Infinita
Que lhe toca em sua paralela.

Corra selvagem, em extintos pés
de arderem as solas da Terra
Pelas rodas de seu chassi amargo
de pneumático azul a guiar.

andar pela cidade com falsos pés,
nós protozoários pluriformes,
e desagradavelmente deformes
em falsos céus

Nuvens de giz de cera
Voe pelos ares em ondas do pacífico.

São pedras no meio do caminho
Ladeira a baixo
Andando sobre seus ciclos.
Seus tempos e sua mente
sua lúcida visão
alva de nevoeiros vertiginosos.

Sobre esse monte estão as musas
Esplenomegálicas
Construídas nesse escarro de asfalto
Espírito entre margaridas
Céu e Inferno

Barro e tinta e carne!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Viajante

O corpo inclinado pra frente, e um tanto metido.
De vértebras côncavas para o desconhecido.
Encarar a loucura com a mente lúcida e plástica,
E os olhos raros no ar giram ébrios a pestanejar
buscando sempre a fuga e o incompreendido

Completar a surrealidade de um sonho maldito:
O desespero da sorte de quem desfia e desafia
o fio da morte.

Ao fundo a beleza e o horror a lhe contemplar
a solidão de uma viagem pelo deserto
Cabelo desgrenhado revolto em ideias
de gritos bêbados, mudos e silêncios selvagens
e um sorriso vão e vago de um histrião liberto
das correspondências escritas em teias do mundo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

-

Vermelha Mulher construída
com gotas de chuva

Encheu os copos
Molhou os corpos
e embaçou os óculos dos rapazes.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"My Wild Love"

Vultosos cabelos despencam em cachos,
Este vulto negro em que nado em suas melenas,
Sobre as costas cai, languidamente, essa cachoeira
De flores a sua direita, sobre suas orelhas.

São fortes e levantados os traços das sobrancelhas
Abaixo estão seus olhos de miolo de girassóis:
Que me olha e se assusta feito bicho selvagem
Ao se deparar na água com sua própria imagem

Ah, bicho que deita na relva de meus lençóis!

Dê a mim como se doa a alma ao demônio e a fé a Deus.
Banhe-se nas espumas que surge Afrodite Pandemos
E veja, e sinta o gozo que brota do sétimo céu
Para assim, entre nossas coxas, qual pecadores que somos
nos perdermos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

foto do orkut da clara

Me encante corpo de anjo
Me encante em verde verbo em azul
Me faça branco em sinfonia de abelha

Te faço clara em corpo
Te faço em rock,
te crio entre ninfas e bosques

Flor de Narciso nascendo
Ou um Nenúfar na mão enquanto
Morrem as camélias.

flores do jardim da Babilônia
presas atrás da tua orelha
me sorriem amor e sintetizam
saudade.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Suíte 72

"When the music's over turn out the light" (Jim Morrison)


Minha caminhada licenciosa
em silêncio observando
Criatura de tantas vezes o cenho carregado
Maestro que em rígido compasso
os culpados vai carregando:

Oh negro demônio, que dança no inferno
passos de ballet e rodopios aqui tão perto.
Uma orquestra de diabos e seus velozes violinos
tensas percussões e melodia onde dobram os sinos

Ardem os tambores infernais!

72 anjos maus me levaram
pelas escadas em pleno verão

Um imenso teatro com milhares de fúrias
(ou um quarto vazio)
Cada qual com o seu instrumento
que se arrebenta tão vil

Em pratos gritando e se batendo
Rebates de prantos um tanto violentos
Graves palavras de notas puras/

Escrever poesia em partituras
para um leitor solitário
ou para uma orquestra.
tristes e calmas
querelas
palavras em Lá
ou caladas
mortas

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Thelema-correspondência

Soprava o vento de Aiwass,
Sagrado Anjo Guardião,
e me cantava o som de paz
Em melodia de abstração

Versos criptografados em olfato:
Odor de hexâmetros em papiro
nos cantos comido por ratos
Furados com balas de tiro.

Nuit,de coração alado,
Egípcia entre egípcias
do céu noturno ao meu lado,
Canta-me como musa da delícia
Toda a analogia do universo:
O belo, o sublime, o pagão e o perverso.

A chave menor de Salomão
Livre, chama os demônios em que ardes
Enquanto dormem os cristãos
Insônia dos cães e monstros do Hades.
Sorriem harpias sobre negra fonte:
Têm cheiro do oeste e voam trépidas
Entre grandes pilares de almas lépidas
Regato que deságua no Aqueronte

Caronte beija minha face e sorri
Renegado filho dos anjos eu vi
Ordinário e um tanto demente.
William espírito entre fumaças
Liberta-me os 72 demônios da mente
Ergue-te as mãos e reverencia as raças.
Yeats grafe em mim palavras divinas.


Viajar em líquido para Jerusalém
Los sobre a cratera da estrela matutina
Dos tempos de Blake essa inspiração vem
e dentro dos glóbulos sanguíneos me ensina:

Que corresponda meu verso com tudo
com todos e um só
e corra em mim palavras
que na garganta dão nó

segue, rio, a caminho do deserto
desliza a serpente aqui pra perto
Voe, alma, por Épiro rumo ao norte
e transite, homem, pelo vale da morte.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vias em Têmpora


Esperei o cantar da musa, um verso de proposição, qualquer herói...
Ajoelhei-me diante da Aurora.
Na Grama, meu joelho sente frio de horas-ferro de fé enquanto me queimo ao sol. Mudei...

Fugi, me preveni de qualquer monotonia de cor e fala. Resgatei sotaques e palavras de nenhuma língua. Poesias escritas por sons do inconsciente, por imagens de neblina e sensações de um espírito móvel.

A noite chega como peso de sombra por cima de meus ombros e deposita seus dedos déspotas em minhas pálpebras. Oníricas aves ocupam meu ser (Sei o quanto o sonho se apodera da alma e viajo as terras profanas):
Ancestrais de sangue que não possuo voltam como imagens, ou lembranças sem passado. Fósseis de grito selvagem.
De desespero feroz me refugiei nas guerras humanas e senti a coronha na nuca e o peso do sangue. A imagem de um soldado morto:

Paisagem de preguiça olhando para o céu.

Tinha como Testamento os cânticos escritos por anjos
uma orquestra em sons longos Lânguidos e... silêncio. Deitar as palavras em verso de repouso e calma:

-“Carrosséis divinos em céus fumegantes/ após beber o ouro dos trabalhadores”.

Cheguei ao mundo de Poietikós, e caminhei sobre frias cerâmicas de palavras. Tinha minha casa aberta para o monte Empyreo, e nevava cinzas de Troia. Musas dançavam, em formas alvas, sonetos de flauta transversal. O vento soprava tempo e me perdia nos movimentos de letras. Busquei a diferença que roça à loucura. Pisei no limite e olhei para baixo: sustentei-me com asas de Ícaro e cai sobre a floresta de símbolos. Andava em passos metrificados sobre galhos no chão.

Pisar na cidade de analogias e servir-se no mar de metáforas onde transladam os rios dos sentidos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

CLARA VÊNUS

Amor colhido de uma paisagem de éter;
de encantamento terrestre e carnal
onde dançam, em festa, nossas almas
infestando nosso ser de ar, de tudo

São pétalas de flores feitas de neblina
e por te conter assim em tudo.
E por isso ser assim: CLARA

segunda-feira, 10 de maio de 2010

À Isadora Duncan

Nascida de férteis brumas de champagne
dentro de uma ostra surge dançando
a alma de Vênus
Em corpo nu e voltado para o mar.

Em passo improvisados
de Deusa
caminha pelas revoluções
do Sol

Dança-se ao vento... lânguido e longo echarpe:
o nascimento de narciso; o ritmo
da poesia de Whitman
e o ritual de Dionísio.

feito criança ou serpente
em túnica grega
seu corpo, de formas inocentes,
dança

Mas agora,
O corpo de Isadora no ar
faz seu último passo
em ritmo
de pássaro-livre
antes de se acabar
no asfalto

domingo, 2 de maio de 2010

Anáglyptos



(arte do Filipe N. G. de Oliveira www.ditirambo.ning.com )

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Teoria do poema com o velho safado

"... veja as saias que estão usando agora, com a bunda toda de fora. estamos caminhando depressa e eu gosto disso, não tem nada de mal. mas o Sistema anda preocupado com a cultura oficial. ela serve de freio. não há nada melhor que um museu, uma ópera de Verdi ou um poeta pedante pra conter o progresso saíram correndo pra consagrar o Lowell depois viram que era o mais indicado. É SUFICIENTEMENTE INTERESSANTE PRA NINGUÉM PEGAR NO SONO, MAS TAMBÉM PROLIXO DEMAIS PRA SER PERIGOSO."

(Bukowski.Fabulário Geral do Delírio Cotidiano- Cerveja, poetas e mais papo)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ilha de Melo

Cavalgar sobre serpente
num rio todo de leite
onde é leito de sereias
e as areias são cristais;
rochas de carvão mineral.

Desbravar uma ilha de máquina
com/passos de pássaro líquido
que se evapora em nuvem

E chove em palavras.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mãe

Vertestes em mim verde-amor
derramado em maternal leite.
Amor de mãe é:
Desfrutar do amor maduro
feito fruta fresca
esquecida na lancheira.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

Calmo

O que você quer?
Durma um pouco mais
depois me diga o quer...

O ar do dia passou calmo
gentilmente calado
Assim...
quase sem nos tocar.

Ainda não bebi
o copo de água.
Ainda tenho sede
A água já estava quente.

O que você quer?

Apague a luz
abaixe o som da tv
Vamos dormir.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Venus Anadiomene em prosa

Como de um caixão verde-estanho, de uma velha banheira emerge – lenta e imbecil – a cabeça de uma mulher: cabelos finos e ensebados com calvícies muito mal disfarçadas. Saltam do colo graxo e gris as largas omoplatas salientes; o dorso curto a entrar e sair da água.

Em seguida, a curva dos rins parece expandir; A gordura sob a pele surge como em folhas planas: A coluna vertebral é um tanto avermelhada e em tudo há um gosto horrivelmente estranho. É especialmente expostas singularidades que só se veem com lupa: Nos rins dois nomes só gravados: CLARA VENUS;

- E todo o corpo move e estende a ampla anca bela horrorosamente: uma úlcera no ânus.

Amor no buteco

falar sobre o amor
é escrever com palavras
com sabor de BOHEMIA gelada.

É beber enquanto se fala
a língua dos deuses

RITA, ELA FALA A LÍNGUA DAS DEUSAS!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

sábado, 27 de março de 2010

TENHO UM RIACHO NA FAZENDA

Riacho onde nadam e voam sereias
E navegam antigos catamarãs de madeira
De velas azuis e brancas
dos pescadores do Sri Lanka:
Contrabandistas de sirenas.

Cantam sobre o riacho da fazenda
E cheiram cocaína
Sereias expostas na tenda
da feira marroquina.

Transitam camelos cavalos e um elefante
No mercado aberto de Marrakech
Onde Afrodite acorrentada nua é estuprada
por velhos defeituosos de turbante.

terça-feira, 23 de março de 2010


Hoje a Aurora surgiu mais tarde,
de ressaca;
sem tranças
ou mesmo de cabelos penteados.

Tocou-me com dedos cinzas
e cheiro de cigarro!

Mostrou-me mortes
de Argivos

Corpos perdidos
em tempestades
de areia

escritas-cravadas
em costas de escravos.

E terremotos
em folhas de jornais

Acordei com mil raças
sangrando em mim

domingo, 21 de março de 2010

Memórias da cozinha

Em pequeno, não gostava de mexidinho
era só um pranto meu canto
um berreiro em redondilhas
me ouviam todos os vizinhos
reclamando da carne moída
do ovo, cebola e lentilhas.

Pior ainda eram os dias de sopa
tinha que comer entre sopapos.

Sentado sozinho na cozinha
(no canto dos olhos espreitar
pra ver se ninguém vinha)
ralo a baixo a sopa mandar

e com um restinho no prato
perguntava pro meu pai:
“Deixa eu deixar?”

quinta-feira, 18 de março de 2010

À flor da Pele

Vestindo um vestido
feito de tecido vermelho
tão leve e tão curto
que traça perfeito
as linhas do corpo puro

– cortá-lo com faca! –

E um branco sem-nome
em que me perco
em coxas tão fartas
que serviriam de hecatombe
a qualquer deus grego.

Quem diria...
Essas meninas de 14 anos
de hoje em dia!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Divina Goiânia

Pagam o Pedágio
de um sit-pass
as almas que chegam
de todos os lados
no limbo
ou no terminal
do Padre Pelágio.

Talvez por não passarem
pela praça da Bíblia.

Transeuntes.

profecias na sarjeta
por bêbados
em pontos de ônibus.

Amarelo.

Um renque de velhos
(de olhos vermelhos
E canelas carcomidas
pelo tempo)
passivamente
compram ouro

segunda-feira, 15 de março de 2010

Clarafila

E de seu corpo
corre em sua seiva
meus minerais

E por nossos tecidos
corre açúcar

em que sintetizamos
ou palavra
ou luz.
pelas pétalas
de todas as flores
a palavra certa

escritas na seiva
as palavras cravadas
no súber da árvore

na flor soava o vento.
Numa pétala um nome inscrito:
Clara.

domingo, 7 de março de 2010

O

As juntas do corpo necrosadas:
Imóvel.

Sentado há ânus
com a próstata inflamada

Prostrado sobre suas varizes
e gorduras de pernas toscas.

Em sua esquizofrenia de soberano
está o misantropo deus
sentado no trono

nos fazendo
a sua imagem e semelhança.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Letras

Ao caminhar entre mulheres
de pedra
fui assaltado
por um sagitário.

Asseteado
Acertado com flechas
de metáforas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dois

Gozo de um espírito em mim
e gosto do seu querer:
querer partir

Abraço-te; beijo-te
entre lençóis.

Doo e te dou minha alma líquida
Para juntos dormirmos.

Carrega-te as cicatrizes
da cama
e enleios de lençóis.

Envolta em marcas
de sedas.

E que sejas de ser sempre assim:
Às marcas de toda uma noite.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Trova

Rumo não é a linha reta
seguirei a estrada torta
pois conhecer todo o Mundo
é o que entendo por Poeta

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carrego dentro de mim um espírito

Carrego dentro de mim um espírito
que quer sair.

Por isso te abraço e te beijo
entre lençóis.

Doo e te dou minha alma líquida
Para juntos dormirmos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cançoneta do vagabundo.

Rodei a roda da rotina
rasgada na face rota
do bêbado da esquina.

Cantei a toada de uma ideia
no ritmo do cair da gota
que cai solta no ar.

Com os elementos da melopeia
fiz um batuque na mesa do bar.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Cançoneta de Caserna

Estive em guerras,
e por dias
na estrada.

Pelotões.
Pelos sertões
Caminhei com tropeiros.

Corri por entre campos
de cevada.

Mas hoje, sonhando, fui
bivacar entre meus
travesseiros.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Meu Dia

Cama, água, torneira, chuveiro, tênis, televisão, chuveiro e caderno. Carro,lápis, borracha e caderno. Comida, lápis, borracha e caderno. Bola, canela, calcanhar e roxo. Carro, televisão, chuveiro e televisão. Comida, bola, canela, calcanhar e roxo, chuveiro e televisão. Água, banheiro, susto. Bola, canela, calcanhar e roxo, água, banho, pijama, boa-noite, água, boa-noite, pasta de dente, escova, coberta, cobertor, colchão e travesseiro.
03/05/2000

Quem come quem.

A planta é comida pela abelha,
o sapo come a abelha,
o sapo é comido pela cobra,
a cobra é comida pela onça
e o homem mata a onça
para tirar sua pele.

26/09/2000

Isso são outros Quinhentos...

Tudo começou quando Cabral comprou um sapato italiano comprado pela internet grátis, IG, porque queria economizar.

Cabral deu um pulo com seus sapatos de mola na sua lancha H-2000.

No caminho sua mulher liga, preocupada, para saber onde ele estava, mas Cabral havia desligado seu celular "Motorola" e também estava assistindo à corrida e vendo Michael Schumacher humilhar Rubinho.

Depois que acabou a corrida ligou para sua mulher e disse:

- Já estou voltando para casa, benzinho!

-Tudo OK!

Fim...
Brincadeirinha

Quando Cabral Chegou no Mac Donalds com aquele barrigão:

- Ei chapa, quero um Quarteirão, um Big Mac e um Mac lanche-feliz...

Mas quando Cabral foi pagar o caixa ele disse:

- Poxa chapa, eu não tenho dinheiro... tem que ser igual aos índios da minha época, pois eles não usavam nenhum centavo.

E Cabral viveu feliz para sempre com os presidiários na cadeia.

24/05/2000

sábado, 30 de janeiro de 2010

À Dança

Assim dançava teu espírito:
Rodando em uma oferenda aos deuses
gregos ou africanos;
doando-se à música.

Rasgando a terra
em passos bem marcados.

E o corpo dançando
sobre o eixo da vértebra
fazia tuas sandálias de tinta,
escrevendo com o corpo
tua poesia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Poesia do Yage

Yage é uma viagem espaço-tempo.
O quarto parece sacudir e vibrar com movimento.
O Sangue e a essência de muitas raças:
negros, polinésios, mongóis da montanha
nômades do deserto, poliglotes do Oriente Próximo, índios,
novas raças ainda não determinadas
e por nascer e combinações ainda não descobertas
passam através do meu corpo.

Migrações, incríveis viagens através de desertos,
Florestas e montanhas
( Marasmo e morte em estreitos vales montanhosos
onde plantas brotam da pedra
e enormes crustáceos eclodem e quebram a concha do corpo),
através do Pacífico num catamarã
para a ilha da Páscoa.
A Cidade Composta onde todos potenciais humanos
estão espalhados num vasto e silencioso mercado.

Minaretes, palmeiras, montanhas, florestas.
Um lento rio onde pulam peixes defeituosos,
enormes parques tomados pelo mato
onde meninos deitam na grama...

(William Burroughs, no original em prosa no livro Cartas do Yage)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Jacarezinho

As férias da infância
cravadas na solidão
do portão verde
da casa da minha avó.

Porão de metáforas
da nostalgia.
Garagem de sonhos.

Enquanto que a liberdade
não está presente
no álbum de família.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Seguirei a estrada

Seguirei a estrada
do vento que soprar mais rasgante.
Por hoje sou a débil criança.

E vou de trabalhos
em rotos lugares,
pisados.

Para, à noite, ouvir
- nas flautas fumegantes -
os acordes das estrofes
de meus versos.

Seguirei a estrada
por onde pesar meus ombros
e – cansado – deitarei sobre a grama
fazendo de verde meu repouso.

E entre os galhos de árvore
olvidar-me pelas estrelas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Livros de Brinquedo

Meus livros estão improvisados
guardados em um armário de portas fechadas.
Tristes estão, por estarem se escondendo,
queriam mesmo é se exibir.

Se Baudelaire diz que a alma do vinho
prefere descer a goela do trabalhador
a ficar parada na adega,
Os livros preferem se espalhar
pelos quartos, salas e outros lugares
a ficarem em prateleiras se empoeirando.

E se começo a ler mais de um livro ao mesmo tempo
e me perco com isso
É porque quero que todos os livros se alegrem
de serem lidos e tirados da prateleira.

Sinceramente acho que os livros se parecem mais com brinquedos
do que com a alma do vinho.
Livros estão mais para Toy Story do que para Baudelaire.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Haiti

Caminha por entre os escombros.
Pisa sobre os cacos de vidro deixados no chão
pelo mundo.

Nem de longe vê a beleza,
Apenas um pássaro que voa torto
fugindo do fim.

Foi num dia como esse
Que Zeus mostrou sua forma divina
À Sêmele.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tempo Oxidado

O tempo que oxida e corrói
Faz da madeira podre, do metal enferrujado.
A cicatriz da ferida que não dói,
ou faz sentir o membro amputado.

Nos põe rugas por toda parte
Desgasta tudo o que sopra a sua frente.
Desbota a cor do estandarte.

Mas é da antiga madeira
Que se faz a nostalgia da janela.
A cicatriz do passado no presente
cravada num pedaço de aroeira.