quinta-feira, 27 de maio de 2010

Suíte 72

"When the music's over turn out the light" (Jim Morrison)


Minha caminhada licenciosa
em silêncio observando
Criatura de tantas vezes o cenho carregado
Maestro que em rígido compasso
os culpados vai carregando:

Oh negro demônio, que dança no inferno
passos de ballet e rodopios aqui tão perto.
Uma orquestra de diabos e seus velozes violinos
tensas percussões e melodia onde dobram os sinos

Ardem os tambores infernais!

72 anjos maus me levaram
pelas escadas em pleno verão

Um imenso teatro com milhares de fúrias
(ou um quarto vazio)
Cada qual com o seu instrumento
que se arrebenta tão vil

Em pratos gritando e se batendo
Rebates de prantos um tanto violentos
Graves palavras de notas puras/

Escrever poesia em partituras
para um leitor solitário
ou para uma orquestra.
tristes e calmas
querelas
palavras em Lá
ou caladas
mortas

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Thelema-correspondência

Soprava o vento de Aiwass,
Sagrado Anjo Guardião,
e me cantava o som de paz
Em melodia de abstração

Versos criptografados em olfato:
Odor de hexâmetros em papiro
nos cantos comido por ratos
Furados com balas de tiro.

Nuit,de coração alado,
Egípcia entre egípcias
do céu noturno ao meu lado,
Canta-me como musa da delícia
Toda a analogia do universo:
O belo, o sublime, o pagão e o perverso.

A chave menor de Salomão
Livre, chama os demônios em que ardes
Enquanto dormem os cristãos
Insônia dos cães e monstros do Hades.
Sorriem harpias sobre negra fonte:
Têm cheiro do oeste e voam trépidas
Entre grandes pilares de almas lépidas
Regato que deságua no Aqueronte

Caronte beija minha face e sorri
Renegado filho dos anjos eu vi
Ordinário e um tanto demente.
William espírito entre fumaças
Liberta-me os 72 demônios da mente
Ergue-te as mãos e reverencia as raças.
Yeats grafe em mim palavras divinas.


Viajar em líquido para Jerusalém
Los sobre a cratera da estrela matutina
Dos tempos de Blake essa inspiração vem
e dentro dos glóbulos sanguíneos me ensina:

Que corresponda meu verso com tudo
com todos e um só
e corra em mim palavras
que na garganta dão nó

segue, rio, a caminho do deserto
desliza a serpente aqui pra perto
Voe, alma, por Épiro rumo ao norte
e transite, homem, pelo vale da morte.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vias em Têmpora


Esperei o cantar da musa, um verso de proposição, qualquer herói...
Ajoelhei-me diante da Aurora.
Na Grama, meu joelho sente frio de horas-ferro de fé enquanto me queimo ao sol. Mudei...

Fugi, me preveni de qualquer monotonia de cor e fala. Resgatei sotaques e palavras de nenhuma língua. Poesias escritas por sons do inconsciente, por imagens de neblina e sensações de um espírito móvel.

A noite chega como peso de sombra por cima de meus ombros e deposita seus dedos déspotas em minhas pálpebras. Oníricas aves ocupam meu ser (Sei o quanto o sonho se apodera da alma e viajo as terras profanas):
Ancestrais de sangue que não possuo voltam como imagens, ou lembranças sem passado. Fósseis de grito selvagem.
De desespero feroz me refugiei nas guerras humanas e senti a coronha na nuca e o peso do sangue. A imagem de um soldado morto:

Paisagem de preguiça olhando para o céu.

Tinha como Testamento os cânticos escritos por anjos
uma orquestra em sons longos Lânguidos e... silêncio. Deitar as palavras em verso de repouso e calma:

-“Carrosséis divinos em céus fumegantes/ após beber o ouro dos trabalhadores”.

Cheguei ao mundo de Poietikós, e caminhei sobre frias cerâmicas de palavras. Tinha minha casa aberta para o monte Empyreo, e nevava cinzas de Troia. Musas dançavam, em formas alvas, sonetos de flauta transversal. O vento soprava tempo e me perdia nos movimentos de letras. Busquei a diferença que roça à loucura. Pisei no limite e olhei para baixo: sustentei-me com asas de Ícaro e cai sobre a floresta de símbolos. Andava em passos metrificados sobre galhos no chão.

Pisar na cidade de analogias e servir-se no mar de metáforas onde transladam os rios dos sentidos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

CLARA VÊNUS

Amor colhido de uma paisagem de éter;
de encantamento terrestre e carnal
onde dançam, em festa, nossas almas
infestando nosso ser de ar, de tudo

São pétalas de flores feitas de neblina
e por te conter assim em tudo.
E por isso ser assim: CLARA

segunda-feira, 10 de maio de 2010

À Isadora Duncan

Nascida de férteis brumas de champagne
dentro de uma ostra surge dançando
a alma de Vênus
Em corpo nu e voltado para o mar.

Em passo improvisados
de Deusa
caminha pelas revoluções
do Sol

Dança-se ao vento... lânguido e longo echarpe:
o nascimento de narciso; o ritmo
da poesia de Whitman
e o ritual de Dionísio.

feito criança ou serpente
em túnica grega
seu corpo, de formas inocentes,
dança

Mas agora,
O corpo de Isadora no ar
faz seu último passo
em ritmo
de pássaro-livre
antes de se acabar
no asfalto

domingo, 2 de maio de 2010

Anáglyptos



(arte do Filipe N. G. de Oliveira www.ditirambo.ning.com )