terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Araruama
se parte em pedaços
os vasos de barro da tua casa.
A janela rompe e arranha o vento
pela madeira que grune velha,
e se abre ao sol:
Iluminando a teia de aranha.
Evapora-se a água ao chão
- da chuva de ontem -
que no quintal
reflete a luz do meio-dia
Teu corpo ainda repousa na cama,
enquanto na casa ao lado
pia a panela de pressão.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Oração Subordinada ao Substantivo
Pedimos de alma e coração cativo:
para o bem ou para o luto.
Falta saber se na oração
Deus é vocativo
ou anacoluto.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Mais do mesmo
Caprichei na carta, acho que caprichei, na verdade não lembro. Só lembro de esperar meu pai chegar pra me buscar e eu entregar o meu presente do dia dos pais, mas minha mãe que foi me buscar nesse dia.
Tive que esperar aquela gigantesca viajem até chegar em casa, e ainda era hora do almoço. Eu era uma criança segurando uma carta com um chocolate. Eu queria muito dar o presente inteiro e aquele chocolate olhando para mim.
Resisti à tentação e consegui dar o presente pro meu pai, provei que era forte e que mesmo o chocolate sendo muito mais gostoso para mim do que para ele o importante mesmo era fazê-lo feliz.
Mentira.
Comi o chocolate ainda no carro, então virei para minha mãe como que me desculpando e perguntei:
- Mas mãe, o importante mesmo é a carta, né?
Crescemos, mas mantemos nossa essência.
Vou viajar com meu pai para São Paulo para passar o natal com ele e a namorada dele, lá terá um amigo-secreto feito na hora, então você compra um presente sem saber para quem vai dar.
Como dar um presente sem saber quem é a pessoa?
O único jeito foi comprar algo que eu gostasse muito. Voltei ao sebo que tinha ido comprar 3 livros. Fui na parte de cd´s e comprei 3 cd´s do The Doors: L.A Woman, Strange Days e Waitting for the Sun.
O melhor presente que alguém poderia ganhar.
Mas não sei o que demora mais: esse natal que não chega ou a trajetória colégio-casa de minha infância.
Decidi. Vou ficar com os cd´s, eles são muito melhores para mim do que para qualquer outra pessoa.
Nesse momento, consigo até lembrar do gosto do chocolate.
Acho que vou ter que fazer uma carta para meu amigo-secreto.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Um dia vou parar de escrever
Burroughs estava certo:
Escrever é um ofício perigoso
Um dia vou parar.
Mas não hoje, nem agora
Hurricane
Há 1 ano comprei o cd Desire do Bob Dylan, e a primeira música do álbum me fazia voltar e escutá-la de novo e novamente... e nem sabia a história que contava. Agora que sei gosto mais ainda.
Tiros de revólver ressoam na noite dentro do bar (Pistol shot ring out in ballrom night.)assim começa a música Hurricane de Bob Dylan, uma música de poucos acordes e muito tempo. Mas é o tempo necessário para contar a história de um boxeador que foi condenado a prisão perpétua por um crime que não cometeu, a única semelhança com o verdadeiro criminoso era eles serem negros.
Tal fato ocorreu nos Estados Unidos quando as revoltas raciais cresciam e o clima já não estava muito bom. Um Júri feito somente por brancos condenou “Hurricane” sem grandes provas, apenas por um testemunho que afirmou ser o boxeador o cara que atirou no bar naquela noite.
Testemunhas falaram que os assassinos eram negros e saíram num carro branco, nesse mesmo dia Rubin Carter (Hurricane) andava de carro com seus amigos, e como sempre foi abordado pela polícia: “não tinha ideia do tipo de merda que estava para baixar/ quando um tira o fez parar no acostamento/ igual à vez anterior e a vez antes dessa”.
(Had no idea what kinda shit was about to go down/When a cop pulled him over to the side of the road/Just like the time before and the time before that.)
Rubin Carter mandou sua biografia para Bob Dylan sabendo que o cantor era engajado nos assuntos raciais, e baseado nessa história o cara que apresentou a maconha aos Beatles escreveu essa música muito foda.
Patty Valentine nome que aparece na música realmente existiu, e ela processou Bob Dylan por usar o nome dela sem autorização e indevidamente, mas um processo injusto, já que foi ela que quis apontar o dedo para o primeiro negro que apareceu na sua frente, incriminando-o.
Bello e Bradley, dois bandidos que assaltavam na região, foram as testemunhas que colocaram Rubin Carter na cadeia, duas pessoas muito confiáveis que com certeza falaram a verdade, pois eram bandidos brancos.
Toda essa história está muito mais bem contada pelo Bob Dylan do que por mim
Ah... e só eu acho o Bob Dylan parecido com Adam Sandler?
* Falando em Hurricane, ouçam também a música do Hellbenders, vale a pena. www.myspace.com/hellbendersbr
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
O Tempo e o Ônibus – Parte II
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
O Tempo e o Ônibus – Parte II
uma jornada comum.
Converso com um amigo, com uma amiga.
A conversa não rende, pego um livro.
Ando viciado em Rimbaud, culpa do trabalho de literatura.
Sempre fui assim: quando gosto de algo, uso até gastar.
seja com livros, tênis ou relacionamentos.
Tomara que alguns relacionamentos e livros demorem muito tempo,
ou não acabem.
Mas voltando à viagem...
Tudo normal, nenhuma infinidade.
Passei do ponto que ia descer.
Destino.
Desci no próximo ponto
Era perto,
não tive que andar a mais.
E me Surpreendi.
Fiquei feliz por Goiânia ser pequena.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Em Ogaden
nesse continente distante.
Em meio a camelos e fuzis.
Tenho a visão de um monge
e corpo de um querubim do inferno
Agora com aço nas entranhas
nada mais escreverei
Sou maior. Rude e mais forte
Sons de balaço são a lírica de minha poesia.
Negro sangue corre pela minha veia...
Tempestade de areia pela ventania
Gritos selvagens, tambor e dança.
Sobre meu corpo se lança
Poesia perdida na areia da África...
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Rimbaud: Wild Child
Esse texto não pretende mostrar a moral – ou a falta dela – de um poeta adolescente, maldito e precoce. Julgar Rimbaud está à parte de qualquer mortal. Aponto e tento interpretar apenas a tempestade de imagens de desespero e revolta que esse jovem poeta rasga em sua obra maior: “Uma temporada no inferno (Une saison en enfer)”
Herdeiro direto da poesia decadentista, maldita e simbolista de Baudelaire Arthur Rimbaud escreve sua poesia em prosa superando a poética de seu mentor intelectual; o também poeta Paul Verlaine.
Em 1870, orientado por seu professor Georges Izambard, Rimbaud começa sua poesia ao estilo parnasiano. Em 1871, manda seus poemas ao já célebre poeta Paul Verlaine, que o introduz na comunidade literária parisiense. Influenciado por Verlaine percebe-se a rigidez na métrica e rima, pois como o próprio Verlaine disse “A música acima de tudo”, mas logo Rimbaud se desprende de tal influência, produzindo sua poesia de maneira única.
Meados de 1872, Arthur Rimbaud vai para Paris com Verlaine, que larga seus filhos e esposa para viver ao lado de Rimbaud. O relacionamento amoroso dos dois poetas choca a sociedade parisiense, não somente por ser um relacionamento homossexual no final do séc. XIX, mas por ser marcado por haxixe, absinto e muito álcool.
No ano seguinte, em uma das brigas do casal de poetas, Verlaine atira duas vezes em seu amante, acertando-o no pulso. Verlaine é condenado e preso por dois anos, não por ter atirado, mas por pederastia. Rimbaud não faz nada para tentar tirá-lo da cadeia, pelo contrário, volta para Charleville, sua cidade natal, onde termina, aos 19 anos, seu último livro “Uma temporada no inferno”.
Em 1874, vai para Londres onde escreve os primeiros poemas em verso livre da França: Iluminações. Então decide parar de escrever para trabalhar. Mas Rimbaud é maldito demais para um trabalho comum, viaja pela Europa, Ásia e por fim África onde vira traficante de armas.
Esses dados biográficos servem como auxilio na compreensão da obra e do pensamento desse poeta maldito.
“Uma temporada no inferno” como está muito bem definido no verso do livro: “é o visceral relato em prosa poética do homem perscrutando as suas profundezas e origens. De uma riqueza imagética sem precedentes na literatura, os textos desse livro visitam sonhos e terras distantes, desejo de solidão e sede de conhecimento, o passado ancestral e a busca pelo desconhecido.’’
A poesia de Rimbaud é a representação da revolta selvagem de um jovem que hora mostra uma lucidez quase profética, hora uma inocência adolescente, mas que não perde a grandiosidade e força das palavras.
Talvez por isso seja o principal poeta que influenciou o vocalista da banda de rock The Doors e poeta Jim Morrison, a música Wild Child mostra tal influência:
Criança selvagem cheia de graça
Salvadora da raça humana
Seu rosto frio
Criança natural, criança terrível
Não é filha de sua mãe nem de seu pai
Nossa filha, gritando selvagemente
Um ancião lunático reina
nas árvores da noite
Com fome nos seus calcanhares
e liberdade nos seus olhos
Ela dança de joelhos
Príncipe pirata ao seu lado
Olhando nos olhos vazios do ídolo
Você se lembra de quando estávamos na África?
( Trad. Thales Brust Buzetto)
E não é por menos que Leminski diz em seu ensaio “Poeta Roqueiro” que “vivesse hoje, Rimbaud seria músico de rock”.
“Uma temporada no inferno” é dividido em 9 textos de prosa poética que narram uma jornada: Uma temporada no inferno; Mau Sangue; Noite do inferno; Delírios I – Virgem louca, O esposo infernal; Delírios II – Alquimia do verbo; O impossível; O clarão; Manhã e Adeus.
Já no começo de “Uma temporada no inferno” Rimbaud expõe o que é a sua poesia decadentista: “Uma noite, sentei a beleza no meu colo. E achei amarga. Injuriei.”
O texto Uma temporada no inferno é apenas uma introdução e uma explicação do porquê da jornada que será narrada em seguida: “Ah! Pequei demais: - Mas, caro Satã, por favor, um cenho menos carregado! e esperando algumas pequenas covardias em atraso, como aprecia no escritor a falta de faculdades descritivas e instrutivas, lhe destaco estas assustadoras páginas do meu bloco de condenado eterno.”
No texto Mau Sangue o poeta fala sobre seus ancestrais gauleses, e que deles herdou a maldição do amor ao sacrilégio, sua cólera, vícios e luxúria. Relata também sua ocupação como escritor e condena todos os ofícios: “Detesto todos os ofícios. Chefes e operários, tudo campônios, ignóbeis. A mão na pena vale a mão no arado – Que séculos de mão! Não darei nunca a minha.”
Ainda nesse texto, Rimbaud fala de suas viagens feitas e outras jamais acontecidas, apenas quiméricas, e mostra toda a potência imagética de suas “palavras pagãs”:
“... tenho na memória as estradas pelas planícies suávias, as vistas de Bizâncio, as muralhas de Solimão, o culto de Maria, o enternecimento sobre o crucificado se erguem em mim entre mil magias profanas. – Estou sentado, leproso, entre mil vasos quebrados e urtigas, ao pé duma parede descascada pelo sol. Mais tarde, cavaleiro germânico, ia bivacar sob a noite da Alemanha.
Ah! Ainda: danço o sabá numa clareira rubra, com velhas e crianças.”
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
quase haicai
um bom motivo para escrever
pois não me deixa ir embora
então deixa chover!!
poema ecológico
- Onde estará o maestro Vento?
- regendo pelos galhos das árvores
a vida em suas seivas
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Terrena Comédia
então fiz essa músiquinha sobre meu Amigo Jesus
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Jesus e seus 14 verbos
“A meio caminhar de minha vida
fui me encontrar numa selva escura
estava a reta minha via perdida.” Dante -Inferno
Como contou a bíblia:
No princípio era o verbo
Mas depois vieram 14 verbos em exceção
e Jesus desceu e me disse então:
Jesus veio nu
Je suis venu
E passando pela espanha
Jesus tirou a camisa vermelha e mostrou a banha
Vinha um touro e jesus gritou: Allé
Je suis Allé
Salvo do perigo, convidei Jesus para ir a minha casa
Estava aqui eu, no reino de Deus
Entre disse para o senhor
E ele me respondeu com honor:
Je suis entré
Saindo de casa meus olhos se encheram de lágrima
Pois no meio do caminho havia uma pedra
E jesus caiu:
Je suis tombé.
Mas Jesus é forte
Não se machucou, era seu dia de sorte
Je suis sorti
“Preste atenção no que falo!”
Disse o detentor de toda fé.
Continuamos a jornada eu a pé
E ele montado no cavalo
Je suis monté
Tive que parar na metade e ver
Jesus pro inferno descer
Je suis descendu
Com medo vi jesus partir
Je suis parti
De onde estava, ainda vi jesus morrer
Sem acreditar vi seu corpo arder:
Je suis morti.
Naquele lugar quente como o sol
Cinzas somente restou
Je suis resté
Mas como a fênix
Da cinzas vi Jesus voltar
Je suis returné.
E eu perguntando como ele fez isso
Ele me respondeu
Eu sou Jesus né?
Je suis né.
E soube que ele voltou apenas para falar
O único verbo que aqui não consegui colocar:
Je suis passé par.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
O suicídio de uma puta
um livro na mesa...
Sérgio Sampaio
rasgando a tristeza.
na banda o poeta tocava flauta
em suas próprias vértebras
na dança - que balança o balaço -
uma puta em seu regaço.
Ele deixou o livro
Ela ao menos sabe ler,
nem brincar...
Apenas botar pra gemer.
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A FLAUTA VÉRTEBRA
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
(Maiakovski)
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Clara
de ebúrnea textura.
És assim: inerte, Clara e pura
Como o amor enteu*.
Minha mão que se perde na tua pele
E escorrega e desliza, como no gelo dança
a água, que derrete e impele
o gelo para uma epopeica andança.
Entrelaçam as almas dos amados,
assim como os pés. Os corpos nus abraçados
e os espíritos em torpor
sentem o vento soprar a ventura.
Consolidam – debaixo da manta de lã -
os versos de Rimbaud:
“No verão às quatro da manhã
O sono do amor ainda dura”.
*inspirado por Deus
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
canção de outono
dos violões
d'um outono
Ferem meu peito
num langor feito
calma e sono.
Me sufocando
pálido, quando
soa a hora
me vem à mente
tempo vivente.
A alma chora.
Violento,
vou como vento.
Me Transporta
pra cá, pra lá
feito assim vá
Folha morta.
(Paul Verlaine, minha tradução)
terça-feira, 17 de novembro de 2009
O Tempo e o ônibus
E mil vezes meus olhos...passavam sobre o mesmo verso de Bukowski. E minha mente nos leves toques.
Ela mudou de posição e fingiu que dormia, reclinou-se sobre a cadeira, apoiando seu pé no corrimão da escada.
E os buracos feitos por deus na terra, que se transformavam no balanço do ônibus. Nossas pernas se encontravam, rapidamente, e logo se separavam, como a mão dela quando tocou meu braço. Num inocente e delirante desejo nos tocávamos e nos repelíamos, como que se desculpando com as pernas.
E como a hipnose do canto das sereias, nos rechaçávamos cada vez menos, e mais tempo nos encostávamos fingindo não perceber, nem sentir a carne do outro, mas sabendo que não estávamos enganando... nem a criança que olha para nós, sem conseguir desviar o olhar e sendo a única a compreender o que se passa ali.
Estava LOUCO! Era meu psicológico, criando histórias. Era delírio! Mas era bom; era infinito, mesmo compreendendo sua efemeridade.
Menos de 40 minutos de eternidade. Meu ponto chegando e eu pensando: se era mesmo real?
E se fosse? O que significaria aquele tempo? Aquele espaço?Um simples ponto material
na Via-láctea.
O orgasmo de uma mosca, ao sugar o sangue de um viciado em heroína.
Ela descendo no mesmo ponto que eu, com a mão se equilibrando sobre o corrimão. Eis a mão, a mesma do início.
Tinha que tocá-la. Sua mão. Minha mão sobre a dela, no corrimão, sem querer. E pronto iríamos embora, ela para baixo e eu atravessando a rua. Mas não toquei, e segurei o corrimão acima de sua mão.
Desci. Ela seguiu para baixo e eu atravessando a rua. Eu a olhando , mas ela continuou caminhando, durante quatro segundos com o olhar para frente, e finalmente para o bem de minha alma, se virou e me encarou. Não era delírio.
domingo, 15 de novembro de 2009
Alex não gosta de fotos
Lázaro, ou qualquer nome Bíblico
Mas não.
Seu nome era Alex.
Era Alex quem pedia cigarro
nas mesas de boteco
e bêbado abria-se a qualquer um.
Contava sobre sua vida
e soprava – para nós –
com a fumaça do cigarro
suas mortes.
E em sua existência se equilibrava
tanta vida e tanta morte
Vestido em um corpo enrugado
Pelo fogo,
numa tentativa de transformar
suas cinzas em espírito.
Mas o fogo que lhe queimava
vinha do Inferno
e não o derretia.
E por não encontrar Deus
mais em Deus acreditava.
Ele que poderia se perder
Se perdeu.
Mas o amor existe
No gênero humano.
E Alex mais do que qualquer um
sabe o que é ser humano.
Achando em seu Senhor e sua Senhora
o que nenhum poeta soube falar.
Ainda assim sua existência se equilibra
em tanta vida e tanta morte.
Morre em solidão.
Vive em sua carne rasgada.
Morre no ensurdecedor silêncio
do mundo.
E vive – acima de tudo –
porque ama.
Alex não é ator,
nem artista.
Se acha feio
Não gosta de fotografias
Pois conhece a realidade
na epiderme e na alma.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Verve
que corta a carne
Minha poesia já foi feita:
minha poesia escrita na pele
a óleo quente
terça-feira, 27 de outubro de 2009
As Percepções do Subsolo
Estou reescrevendo; reeditando um ensaio no qual tento comparar - não sei se forçosamente – dois livros de conteúdos totalmente diferentes, mas que em certo ponto se convergem. Os livros são: Memórias do Subsolo de Dostoiévski e As Portas da Percepção de Aldous Huxley.
O que tento comparar é a relação social dos dois, ou melhor dizendo, a ausência dela. Mesmo que o homem do subsolo seja por natureza um ser isolado; misantrópico e no relato pessoal de Aldous Huxley torna-se difícil e desinteressante o convívio pessoal por causa do efeito da mescalina, droga originária do peiote - com principio ativo parecido com o lsd - mas que para o autor não causa alucinação; visões e sim uma maior percepção dos sentidos e por isso o convívio pessoal se torna tão insatisfatório.
Se em um livro o personagem é por essência isolado da sociedade e no outro é apenas momentâneo, e se um é fictício e o outro real não significa que tal comparação é inapropriada, pois se sabe que o monólogo de memórias do subsolo é influenciado na vida do próprio autor, quando foi preso e condenado à morte, mas que foi absolvido nos momentos finais, tal fato marcou profundamente a vida e obra de Dostoiévski.
Os dois protagonistas têm, sem dúvida, uma inteligência e percepção do mundo acima da média, muito além da mediocridade, outro ponto em comum. E talvez seja essa percepção mais aguçada que os façam, de certo modo, criticar os homens de ação; a vida cotidiana. Seria o mesmo que Baudelaire critica em Paraísos artificiais no Poema do Haxixe: que uma sociedade não sustentaria se todos usassem haxixe, pois o desinteresse pelos compromissos seria grande e que haveria a vontade apenas de reflexão e não de ação.
Em "Portas da percepção" Huxley diz que a mescalina traz aos homens comuns as percepções dos músicos, poetas e pintores, mas que o grande problema é conciliar a contemplação com as relações humanas.
"A mescalina nos abre acesso a Maria, mas fecha a porta que nos leva a Marta (Nas alegorias cristãs, Marta simboliza a vida ativa, enquanto Maria a contemplativa)” - Aldous Huxley.
O que é mostrado no livro do autor inglês é que esses sentidos mais aguçados são desnecessários para a vida cotidiana, chegando a nos atrapalhar no dia a dia, e que nosso organismo faz com tenhamos o mínimo necessário de percepção. A mescalina simplesmente age sobre esse mecanismo que inibe nossos sentidos, liberando-os.
“E, entretanto, minha pergunta continuava sem resposta. Como conciliar essa percepção aguçada com uma justa preocupação pelas relações humanas, com os deveres e as tarefas inadiáveis, para não mencionar a caridade e a piedade atuante? A velha disputa entre contemplativos e ativos estava sendo renovada”, Aldous Huxley.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
O sarcasmo está na moda.
Por que há tantos blogs por ai? E a maioria buscando sempre um estilo irônico-sarcástico, que acaba caindo no ridículo, tentando parecer engraçados e ao mesmo tempo ácidos.
Pode ser que esse texto também acabe virando-se contra si mesmo e torne um texto dos quais eu critico no momento, não estou à parte dos erros e nem me sinto melhor escritor do que qualquer blogueiro.
Estou aqui escrevendo o que qualquer outro blogueiro escreveria ou já escreveu, talvez seja pingar no molhado ou qualquer outro tipo de dito popular que se encontra estilosamente escrito nos blogs afora.
Mas pulando toda essa introdução na qual tento me livrar - em vão - da responsabilidade do que escrevo, falarei do que mais me incomoda nesses diários modernos.
O que mais me irrita, principalmente, é a busca forçada de um estilo para auto-afirmação: um palavrão escrito em letras maiúsculas para dizer que você está pouco se fodendo para os outros; uma palavra propositalmente riscada pra fingir um ato-falho e mostrar o quanto você é irônico; uma história de sexo, drogas e bebedeiras para exibir que sua intelectualidade está além dos clássicos e que prefere Bukowski, Jack Kerouac e mais alguns da literatura marginal.
Não estou criticando quem utiliza palavrões, ironias ou que lê toda a geração beat, mas aqueles que escrevem e fica nítido o quanto forçaram ao escrever aquilo e soou falso. Como diria Graciliano Ramos: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
E não tem como dizer aquilo que não se sabe, a ficção não é uma mentira - talvez seja esse o grande erro da maioria - a ficção serve como uma lente da realidade, é a forma metafórica de escrever sobre o que se vê e se sente; é a representação sintética do mundo.
Outro grande defeito de alguns blogueiros é achar que nasceram com o dom da escrita, que a arte de escrever é inerente a eles e que livros literários são grandes bobagens para pseudo-intelectuais. Não se aprende a escrever apenas sabendo gramática e palavras, isso é o de menos, a gramática é quase que o sistema opressor que não deixa que o texto vire uma anarquia e ninguém entenda nada.
Na verdade, acho que fui severo demais com a gramática, ela tem sim sua importância, mas secundária; coadjuvante, seria como o baixo em uma música, ele está lá fazendo o fundo, bem baixinho, mas se tirá-lo da música estraga tudo. Não, não sei, acho que a gramática é um pouco mais importante, The Doors não tinha baixo.
O que se pode tirar de tudo isso é que depois de House o sarcasmo virou moda.