terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Tempo e o ônibus

O infinito em um ônibus. Você sabendo diferenciar tempo de espaço. O ônibus se deslocando em seu tempo físico indissociável do espaço, mas eu deslocando o mesmo espaço em meu tempo; outro tempo. E ela também, com seus dedos balançando como pequenas garras, mas que não querem pegar a presa, apenas senti-la de leve. Fingia tocar-me casualmente.

E mil vezes meus olhos...passavam sobre o mesmo verso de Bukowski. E minha mente nos leves toques.

Ela mudou de posição e fingiu que dormia, reclinou-se sobre a cadeira, apoiando seu pé no corrimão da escada.

E os buracos feitos por deus na terra, que se transformavam no balanço do ônibus. Nossas pernas se encontravam, rapidamente, e logo se separavam, como a mão dela quando tocou meu braço. Num inocente e delirante desejo nos tocávamos e nos repelíamos, como que se desculpando com as pernas.

E como a hipnose do canto das sereias, nos rechaçávamos cada vez menos, e mais tempo nos encostávamos fingindo não perceber, nem sentir a carne do outro, mas sabendo que não estávamos enganando... nem a criança que olha para nós, sem conseguir desviar o olhar e sendo a única a compreender o que se passa ali.

Estava LOUCO! Era meu psicológico, criando histórias. Era delírio! Mas era bom; era infinito, mesmo compreendendo sua efemeridade.
Menos de 40 minutos de eternidade. Meu ponto chegando e eu pensando: se era mesmo real?

E se fosse? O que significaria aquele tempo? Aquele espaço?Um simples ponto material
na Via-láctea.

O orgasmo de uma mosca, ao sugar o sangue de um viciado em heroína.

Ela descendo no mesmo ponto que eu, com a mão se equilibrando sobre o corrimão. Eis a mão, a mesma do início.

Tinha que tocá-la. Sua mão. Minha mão sobre a dela, no corrimão, sem querer. E pronto iríamos embora, ela para baixo e eu atravessando a rua. Mas não toquei, e segurei o corrimão acima de sua mão.

Desci. Ela seguiu para baixo e eu atravessando a rua. Eu a olhando , mas ela continuou caminhando, durante quatro segundos com o olhar para frente, e finalmente para o bem de minha alma, se virou e me encarou. Não era delírio.

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