quinta-feira, 23 de setembro de 2010

À

Jesus nascido nas costas
Feito um caledoscópio
ou um milhão de escafandristas
mergulhando em seus olhos.

Mulher de escamas
de camadas – de palavras
Mulher palimpséstica

T
- e nt
----- e
Dormir.

sábado, 18 de setembro de 2010

Pedaço de Mim

Uma seleção de músicas românticas
descendo pelo ralo inutilmente
tantas músicas para o lixo.

O miojo perdido e agora esquecido
dentro da gaveta
QUE NINGUÉM MAIS COME.

É tão difícil pensar no futuro
com seu pijama sobre a cama

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

III

Safo beijando Anactória em frente ao Grande Hotel.

Flautas de chorinho tocando numa sexta-feira flores
Na cesta de Safo que flutuava sobre a multidão
e lá embaixo Anactória bebe sua lata de cerveja
ou Ambrosia.

Circo ao ar livre e como sempre
Ônibus passando; casa de deuses
Sem jardim e muros com cerca elétrica.

Televisões fazendo milagres em 3D
HD

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

II

Setembro

época tão seca
que negros de bocas brancas e secas;
um batalhão de infantes etíopes,
tocam dub em nossos poros.

Época que o mundo gira num descompasso
do reggae
e os ônibus caminham mais devagar
pela cidade

As Cinzas de Troia e Pompeia
chovem sobre Goiânia

E todos deuses e deusas
ocumpam seu espaço apertado
no ônibus.

Ontem Palas Atena segurou meu material
e roubou minha borracha.
e Afrodite com um belo sorriso
me deu feliz aniversário

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

I

Arrebentam as vértebras da coluna do ônibus
Sonâmbulos carros e motos
A cidade invadida verde onde o prédio começa
No nono andar

A preguiça estendida na avenida
Feito esguia água que escorre pelo banco
ou seriam pernas da moça do ônibus,
era Safo sentada ao meu lado
e estalavam suas línguas na minha orelha.

Aurora fumando seu cigarro matinal
e dela nosso herói pede emprestado seu isqueiro
fumando um palheiro na porta do escritório

Mais distante, num posto, Afrodite surge de um mictório
sem ostras, mas naftalinas compondo seu leito
surgida dos testículos esquecidos no banheiro
por um bêbado ou algum caminhoneiro.

Mais tarde – continuando nossa história –
Vi aos beijos bem no centro da cidade
Duas mulheres de jovem idade
Era Safo beijando flores em Anactória

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lembra

Lembra quando nos amamos acima de todas as leis:
Flutuávamos sobre a cama e nossas coxas no ar giravam
enquanto nos enleávamos nas sedas
Quando nosso lençol voou pela janela
e o travesseiro virou um pássaro e foi buscá-lo.

Lembra, que num relâmpago nosso, tudo se fez olvido
calmo o lençol caiu sobre nós.

Lembro que acordamos com o interfone tocando.
O porteiro com voz de tédio perguntando se tínhamos, outra vez,
deixado o travesseiro cair no portão de entrada do prédio
E você, tirando uma pena branca da boca, me disse em versos:

“Nos amamos como se amam nos sonhos
Que nos sonhos estão contidos”

À deriva

Espumas e fumaça no ar, No mar
um barco sem destino. Rindo
como um louco o navegador mar
adentra.

Bêbado,
Não se sabe se é o barco,
se é o mar ou o homem
Nesse balanço vertiginoso.

Não se sabe se a espuma é
o gozo celeste de Urano
ou fermento da cevada.

A fumaça a queimar os pulmões
da noite que se refresca
ao mar

Talvez seja Rimbaud
perambulando perdido
na eternidade,nesse mar
de ressaca