quinta-feira, 21 de junho de 2012

Esta insônia comendo as paredes
de meu estômago

Os nervos rangendo meus dentes
e sangrando minha gengiva.

A caixa de remédio vazia ao lado da cama

Os postes anêmicos iluminando
os gatos frígidos da noite

Estes guindastes segurando
minhas pálpebras.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre a rosa o pássaro e o cigarro

Intercalar carnês
de novos mundos desbravados
Corrigir jornais
ser o melhor do melhor do mundo
em empilhar avisos da Unimed

De tudo isso o que sobrará?
os carnês não serão pagos
os jornais não serão lidos
A Unimed falirá com tantas pessoas
querendo Medicina
E o mundo morrerá
sem acreditar no amor

7 vezes
12 vezes renegado

São todos que não têm tempo
que são trens
que são coisas
e que esquecem do amor
Como os que não têm tempo para Deus
Como eu que nunca tive
preferi pensar em Mana, Clara, Júlia,
senha do facebook...

Preferi acreditar na Beleza
na tosca flor que nasce rompendo o asfalto de minha carne
Colhi essa flor que virou cinza de cigarro
Li fragmentos de um discurso amoroso para tentar entender
então peguei o amor e o dichavei ainda mais

O amor rompeu minha pleura
e se alastrou feito pneumotórax
e apitou e assoviou esse pássaro
que tenho nesse mundo aqui dentro

Pássaro suicida se matou enforcado em minhas veias
e de suas cinzas plantei essa fênix em meu peito
e adubei com açúcar até nascer rosa...

E vi meu amor partir feito pássaro
em voo incompleto

foi-se embora com um amigo
foi-se embora com alguém
irá para o estrangeiro

e a mim sobrará cinzas para renascer o amor
como quem retorna a intercalar carnês...

terça-feira, 19 de junho de 2012

falar de pedras cactos cacos
cães e caos.

falar de chuva suave sangue
no chão.

liquidar o osso é para os fracos
eu deposito silêncios em frascos

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Foucault no Porcão

"Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?" (Álvaro de Campos)





No dia 3 desse mês, em cima da hora, fiquei sabendo do Show dos Paralamas do Sucesso que aconteceria em Anápolis totalmente de graça. Rapidamente no facebook fiz o contato com os amigos e partimos: 3 rapazes e uma moça bonita.

O evento era a abertura da semana do meio ambiente, mas senti falta dos vegetarianos-ateus-com-tênis-de-skatista. O show foi muito bom e tudo mais. Na volta o vidro de trás do carro estava quebrado, mas nada foi roubado, uma quase bad.

Para terminar a noite, já de volta a Goiânia, alguns amigos ficaram em suas casas e outros decidiram tomar a última cerveja no Porcão antes de voltar para casa, pois durante o show politico e ecologicamente correto, pouca cerveja se tinha para vender.

Eu poderia gastar mais tempo dando mais detalhes do show, mas isso é o que menos importa na história. O melhor mesmo foi ver o Porcão bêbado fazendo meu filme com a gatinha e falando algumas bobagens um tanto quanto suspeitas. Até que uma hora, como é de costume, chegou um mendigo, crackeiro pedindo um dinheiro para sua pinguinha ou qualquer outra droga.

O mendigo tinha uma aparência como se saísse de algum ciclo infernal de dante. Negro, banguelo, surrado, com o braço cheio de chagas, uma visão desagradável. E em meio palavras sem sentido ele começou a contar que as feridas de seus braços era porque ele tinha lepra, ou mais politicamente correto, hanseníase. E na sua falta de informação ele dizia que tudo bem, que não passava e tudo mais.

Aquela situação desagradável foi se agravando e ele dizendo coisas malucas até que uma hora falou que tinha ficado um tempo internado no Instituto Espírita Batuira (local onde realmente as mina pira). E que lá tinha um local específico para isolamento das pessoas com lepra.

Nesse momento, como uma epifania, lembrei do começo da História da Loucura do Foucault dele falando como na idade média, quando a lepra alastrou-se pela Europa, fora criado os Leprosários e que depois passada a pandemia da peste negra, lentamente os Leprosários foram se transformando em Manicômios.

E posteriormente explicando também como o manicômio serve para isolar aqueles que não se adequam ao sistema capitalista de produção,tornando-se assim crime a vagabundagem. Fala da Nau dos Insensatos de Bosch e que os marinheiros soltavam os "loucos" à deriva perdidos no mar, para tirarem de suas terras aqueles seres-humanos indesejáveis. O que me fez lembrar também de reportagens que vira-e-mexe mostram cidades do interior que fazem depósitos de mendigos em cidades vizinhas.

O problema está resolvido se não está ao alcance de nossos olhos.