falar de pedras cactos cacos
cães e caos.
falar de chuva suave sangue
no chão.
liquidar o osso é para os fracos
eu deposito silêncios em frascos
terça-feira, 19 de junho de 2012
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Foucault no Porcão
"Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?" (Álvaro de Campos)

No dia 3 desse mês, em cima da hora, fiquei sabendo do Show dos Paralamas do Sucesso que aconteceria em Anápolis totalmente de graça. Rapidamente no facebook fiz o contato com os amigos e partimos: 3 rapazes e uma moça bonita.
O evento era a abertura da semana do meio ambiente, mas senti falta dos vegetarianos-ateus-com-tênis-de-skatista. O show foi muito bom e tudo mais. Na volta o vidro de trás do carro estava quebrado, mas nada foi roubado, uma quase bad.
Para terminar a noite, já de volta a Goiânia, alguns amigos ficaram em suas casas e outros decidiram tomar a última cerveja no Porcão antes de voltar para casa, pois durante o show politico e ecologicamente correto, pouca cerveja se tinha para vender.
Eu poderia gastar mais tempo dando mais detalhes do show, mas isso é o que menos importa na história. O melhor mesmo foi ver o Porcão bêbado fazendo meu filme com a gatinha e falando algumas bobagens um tanto quanto suspeitas. Até que uma hora, como é de costume, chegou um mendigo, crackeiro pedindo um dinheiro para sua pinguinha ou qualquer outra droga.
O mendigo tinha uma aparência como se saísse de algum ciclo infernal de dante. Negro, banguelo, surrado, com o braço cheio de chagas, uma visão desagradável. E em meio palavras sem sentido ele começou a contar que as feridas de seus braços era porque ele tinha lepra, ou mais politicamente correto, hanseníase. E na sua falta de informação ele dizia que tudo bem, que não passava e tudo mais.
Aquela situação desagradável foi se agravando e ele dizendo coisas malucas até que uma hora falou que tinha ficado um tempo internado no Instituto Espírita Batuira (local onde realmente as mina pira). E que lá tinha um local específico para isolamento das pessoas com lepra.
Nesse momento, como uma epifania, lembrei do começo da História da Loucura do Foucault dele falando como na idade média, quando a lepra alastrou-se pela Europa, fora criado os Leprosários e que depois passada a pandemia da peste negra, lentamente os Leprosários foram se transformando em Manicômios.
E posteriormente explicando também como o manicômio serve para isolar aqueles que não se adequam ao sistema capitalista de produção,tornando-se assim crime a vagabundagem. Fala da Nau dos Insensatos de Bosch e que os marinheiros soltavam os "loucos" à deriva perdidos no mar, para tirarem de suas terras aqueles seres-humanos indesejáveis. O que me fez lembrar também de reportagens que vira-e-mexe mostram cidades do interior que fazem depósitos de mendigos em cidades vizinhas.
O problema está resolvido se não está ao alcance de nossos olhos.
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?" (Álvaro de Campos)

No dia 3 desse mês, em cima da hora, fiquei sabendo do Show dos Paralamas do Sucesso que aconteceria em Anápolis totalmente de graça. Rapidamente no facebook fiz o contato com os amigos e partimos: 3 rapazes e uma moça bonita.
O evento era a abertura da semana do meio ambiente, mas senti falta dos vegetarianos-ateus-com-tênis-de-skatista. O show foi muito bom e tudo mais. Na volta o vidro de trás do carro estava quebrado, mas nada foi roubado, uma quase bad.
Para terminar a noite, já de volta a Goiânia, alguns amigos ficaram em suas casas e outros decidiram tomar a última cerveja no Porcão antes de voltar para casa, pois durante o show politico e ecologicamente correto, pouca cerveja se tinha para vender.
Eu poderia gastar mais tempo dando mais detalhes do show, mas isso é o que menos importa na história. O melhor mesmo foi ver o Porcão bêbado fazendo meu filme com a gatinha e falando algumas bobagens um tanto quanto suspeitas. Até que uma hora, como é de costume, chegou um mendigo, crackeiro pedindo um dinheiro para sua pinguinha ou qualquer outra droga.
O mendigo tinha uma aparência como se saísse de algum ciclo infernal de dante. Negro, banguelo, surrado, com o braço cheio de chagas, uma visão desagradável. E em meio palavras sem sentido ele começou a contar que as feridas de seus braços era porque ele tinha lepra, ou mais politicamente correto, hanseníase. E na sua falta de informação ele dizia que tudo bem, que não passava e tudo mais.
Aquela situação desagradável foi se agravando e ele dizendo coisas malucas até que uma hora falou que tinha ficado um tempo internado no Instituto Espírita Batuira (local onde realmente as mina pira). E que lá tinha um local específico para isolamento das pessoas com lepra.
Nesse momento, como uma epifania, lembrei do começo da História da Loucura do Foucault dele falando como na idade média, quando a lepra alastrou-se pela Europa, fora criado os Leprosários e que depois passada a pandemia da peste negra, lentamente os Leprosários foram se transformando em Manicômios.
E posteriormente explicando também como o manicômio serve para isolar aqueles que não se adequam ao sistema capitalista de produção,tornando-se assim crime a vagabundagem. Fala da Nau dos Insensatos de Bosch e que os marinheiros soltavam os "loucos" à deriva perdidos no mar, para tirarem de suas terras aqueles seres-humanos indesejáveis. O que me fez lembrar também de reportagens que vira-e-mexe mostram cidades do interior que fazem depósitos de mendigos em cidades vizinhas.
O problema está resolvido se não está ao alcance de nossos olhos.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Mais fritações sobre a loucura e Rimbaud
Vênus Anadiômena
Como de um verde túmulo em latão o vulto
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com déficits bastante mal dissimulados;
Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...
O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...
Nos rins dois nomes só gravados: Clara Vênus;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus (Trad. Augusto de Campos)
A imagem de Vênus gorda, calva saindo de uma banheira velha, é uma metáfora à burguesia francesa, a imagem da banheira velha, sintetiza a podridão e os costumes da burguesia da época. Desconstrói todo ideal de belo que condiz com o bem, “o que é belo é do bem, o feio advém do mal”. Rimbaud vive o fin de siècle, um período de renovação um grito de revolta necessário, como forma de transgressão e alargamento da moral no fim do século XIX. O feio não aparece somente em função de uma estética do horrendo.
E a poesia de Rimbaud, tomando-o como pai da modernidade, mostra a dialética do pensamento moderno, fragmentado. Não é somente do inferno que Rimbaud faz sua obra, há também o período de Iluminuras, e na própria temporada no Inferno Rimbaud diz: “ó estações, ó castelos/ hoje sei saudar a beleza. Rimbaud viveu seus extremos, o Inferno e o Paraíso. Como diria Ezra Pound “a poesia evoluiu pouco ou quase nada depois de Rimbaud.”
Jovem influenciado pelos ideais Românticos, Arthur Rimbaud não separava o eu - lírico do próprio autor. E fez de sua obra, sua vida. Até que ponto pode-se dizer que sua poesia é vidente? Rimbaud sucumbiu à loucura para fazer de sua obra um marco. Rimbaud marca também a impossibilidade de sobreviver com a poesia, Baudelaire ainda foi um poeta lido em sua época, mas com a formação sólida da burguesia, há a ascensão do romance e o declínio da poesia, torna-se insustentável sobreviver da arte.
A clarividência louca desse jovem poeta o faz buscar sustento sendo traficante de armas na África, fazendo valer os planos de suas anotações malditas. Influenciado pelas Flores do Mal de Baudelaire e o pouco auxílio psiquiátrico da época, o próprio Rimbaud afirma: “– E pensemos em mim. Isso me leva a ter pouca saudade do mundo. Tenho a possibilidade de não sofrer mais. Minha vida não passou de doces loucuras, é lamentável.”
E Rimbaud no seu desespero vê que é necessário se pegar a algo, mas a fé, a religião já está em crise no final do século XIX: “O sangue pagão retorna! Se o Espírito está próximo, por que Cristo não o ajuda, dando à minha alma nobreza e liberdade? Ai, o Evangelho caducou! O Evangelho! O Evangelho...” ou ainda “Nunca fui deste povo, nunca fui cristão, sou da espécie que cantava no suplício; não conheço as leis; não tenho senso moral...”
Rimbaud viu o desespero de toda essa negação, e a impossibilidade da vida social,jovem como era fez de sua loucura algo a se vangloriar, e seus períodos de euforia e depressão sublimes, a obra de Rimbaud, principalmente Uma temporada no inferno mostra seu inferno não só de depressão, a própria instabilidade de seu espírito o leva ao inferno: “ Não fiz mal. Os dias me serão leves, o arrependimento, poupado. Não terei as torturas da alma quase morta no bem, de onde sobe a luz severa como dos círios fúnebres. A sorte do filho-família, prematuro caixão coberto de límpidas lágrimas.” “Nasce-me a razão. O mundo é bom. Abençoarei a vida. Amarei meus irmãos. Não são mais promessas de infância. Nem a esperança de escapar à velhice e à morte. Deus faz minha força, e eu louvo Deus.”
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Sobre a loucura, a poesia, transgressão e modernidade
O ateísmo não pode nos tornar céticos, o artista não nega a vida. A racionalidade é muito mais louca e esquizofrênica. Pensar é enlouquecer, sentir é viver. Escravo do que sinto não me incomoda chorar vendo novela, ainda que eu nunca tenha assistido.
O que nos torna louco é a calma. O silêncio da noite escancara nossos medos. Mas Deus é esse vento que me sopra do nono andar, é o mais divino que eu posso encontrar por entre estrelas enquadradas em minha janela. Tento ser o mais sublime com meus olhos, vejo luzes de Bertoluci nos postes de Goiânia e a metafísica de se comer no pit-dog em frente a Igreja. Um dia bêbado quase morri com um pedaço de bacon na garganta. E sei que minha morte será patética como todas as mortes são patéticas, e ainda assim irão chorar quando morrer.
A arte a loucura e transgressão
O feio choca, mas não perdura. A arte é necessariamente bela, a arte de qualidade. Rimbaud diz sobre o feio, sobre o grotesco, mas sua escrita é muito bem trabalhada, é a artesania das palavras. Picasso desfigura o real, choca, mas ele nunca será um Salvador Dali. O próprio Salvador Dali no livro "Libelo contra arte Moderna" diz:
"1) Ele foi enganado pela feiura
2) Ele foi enganado pelo moderno.
3) Ele foi enganado pela técnica.
4) Ele foi enganado pelo abstrato"
A modernidade interpretou muito mal a frase de Rimbaud: "Uma noite, sentei a Beleza em meu colo. - E achei amarga. - Injuriei"
Não há necessidade de querermos ser modernos, isto bastou para Rimbaud. Nós somos modernos, querendo ou não. A linguagem em transformação, a língua sendo viva e evolutiva, não no sentido de qualidade, mas de estar sempre em transformação já dá ao poeta toda modernidade que ele precisa.
Se por um lado Rimbaud diz: "Il faut etre absolument moderne", posteriormente Lorca dirá:
"Pintor, não te ocupes
em ser moderno.
É a única coisa que,
infelizmente,
não importa o que fizeres,
não poderás evitar de ser.
Eu canto teu desejo
de eterno limite."
É necessário que o artista conheça seu limite. Somente atitude não basta para arte. Os acontecimentos passam, a arte fica. O artista deve sim reconhecer sua loucura, para que somente assim ele possa controlar. A loucura não está em bigodes, roupas estranhas e um dente a menos. A loucura pouco produtiva se esconde na camisa de força do cotidiano. Dali não tem nada de louco ou esquizofrênico. Rimbaud ficou louco quando abandonou a arte. Como diria Bukowski no Amor é um cão dos diabos:
" que eles querem
Vallejo escrevendo sobre
solidão enquanto morria de
fome;
a orelha de Van Gogh rejeitada por uma
puta;
Rimbaud correndo para a África
em busca de ouro e encontrando
um caso incurável de sífilis;
Beethoven ficou surdo;
Pound foi arrastado pelas ruas
numa gaiola;
Chatterton tomou veneno para rato;
o cérebro de Hemingway pingando dentro
do suco de laranja;
Pascal cortando os pulsos na banheira;
Artaud trancado com os loucos;
Dostoiéviski de pé contra um muro;
Crane pulando na hélice de um barco;
Lorca baleado na estrada pelo exército
espanhol;
Berryman pulando de uma ponte;
Burroughs atirando na mulher;
Mailer esfaqueando a sua;
- é isso o que eles querem:
o danado dum show
uma placa luminosa
no meio do inferno.
é isso que eles querem,
aquele bando de
estúpidos
inarticulados
tranquilos
seguros
admiradores de
carnavais."
Deus está morto, mas a arte ainda consegue ser redentora.
O que nos torna louco é a calma. O silêncio da noite escancara nossos medos. Mas Deus é esse vento que me sopra do nono andar, é o mais divino que eu posso encontrar por entre estrelas enquadradas em minha janela. Tento ser o mais sublime com meus olhos, vejo luzes de Bertoluci nos postes de Goiânia e a metafísica de se comer no pit-dog em frente a Igreja. Um dia bêbado quase morri com um pedaço de bacon na garganta. E sei que minha morte será patética como todas as mortes são patéticas, e ainda assim irão chorar quando morrer.
A arte a loucura e transgressão
O feio choca, mas não perdura. A arte é necessariamente bela, a arte de qualidade. Rimbaud diz sobre o feio, sobre o grotesco, mas sua escrita é muito bem trabalhada, é a artesania das palavras. Picasso desfigura o real, choca, mas ele nunca será um Salvador Dali. O próprio Salvador Dali no livro "Libelo contra arte Moderna" diz:
"1) Ele foi enganado pela feiura
2) Ele foi enganado pelo moderno.
3) Ele foi enganado pela técnica.
4) Ele foi enganado pelo abstrato"
A modernidade interpretou muito mal a frase de Rimbaud: "Uma noite, sentei a Beleza em meu colo. - E achei amarga. - Injuriei"
Não há necessidade de querermos ser modernos, isto bastou para Rimbaud. Nós somos modernos, querendo ou não. A linguagem em transformação, a língua sendo viva e evolutiva, não no sentido de qualidade, mas de estar sempre em transformação já dá ao poeta toda modernidade que ele precisa.
Se por um lado Rimbaud diz: "Il faut etre absolument moderne", posteriormente Lorca dirá:
"Pintor, não te ocupes
em ser moderno.
É a única coisa que,
infelizmente,
não importa o que fizeres,
não poderás evitar de ser.
Eu canto teu desejo
de eterno limite."
É necessário que o artista conheça seu limite. Somente atitude não basta para arte. Os acontecimentos passam, a arte fica. O artista deve sim reconhecer sua loucura, para que somente assim ele possa controlar. A loucura não está em bigodes, roupas estranhas e um dente a menos. A loucura pouco produtiva se esconde na camisa de força do cotidiano. Dali não tem nada de louco ou esquizofrênico. Rimbaud ficou louco quando abandonou a arte. Como diria Bukowski no Amor é um cão dos diabos:
" que eles querem
Vallejo escrevendo sobre
solidão enquanto morria de
fome;
a orelha de Van Gogh rejeitada por uma
puta;
Rimbaud correndo para a África
em busca de ouro e encontrando
um caso incurável de sífilis;
Beethoven ficou surdo;
Pound foi arrastado pelas ruas
numa gaiola;
Chatterton tomou veneno para rato;
o cérebro de Hemingway pingando dentro
do suco de laranja;
Pascal cortando os pulsos na banheira;
Artaud trancado com os loucos;
Dostoiéviski de pé contra um muro;
Crane pulando na hélice de um barco;
Lorca baleado na estrada pelo exército
espanhol;
Berryman pulando de uma ponte;
Burroughs atirando na mulher;
Mailer esfaqueando a sua;
- é isso o que eles querem:
o danado dum show
uma placa luminosa
no meio do inferno.
é isso que eles querem,
aquele bando de
estúpidos
inarticulados
tranquilos
seguros
admiradores de
carnavais."
Deus está morto, mas a arte ainda consegue ser redentora.
Assinar:
Postagens (Atom)
